Samba da Viradouro gera polêmica entre internautas

Luiz Carlos da Vila (1949-2008) Foto: africaeafricanidades.com.br

No último dia 14, quando a equipe do jornal BEIRA-RIO entrevistava o presidente do rancho resendense Chuveiro de Prata, Claudionor Rosa, para uma matéria publicada na semana passada, o mesmo aproveitou para comentar sobre uma das novidades para o próximo carnaval na Marquês de Sapucaí. E nada tem a ver com as contratações do carnavalesco Paulo Barros ou da cantora Cláudia Leitte pela Mocidade Independente de Padre Miguel.

— A gente parabeniza o presidente pela ousadia, pois eu, como sambista, fiquei emocionado com isso. Se faz tão pouca homenagem com samba, tanto que achei que foi uma forma diferente de relembrar o Luiz Carlos, que está fadado a cair no esquecimento. Agora vamos torcer para que a escola fure o bloqueio do júri do Grupo Especial, que tem sempre o hábito de rebaixar a escola que sobe para o grupo no carnaval do ano anterior – fala Claudionor.

No entanto, outras pessoas apaixonadas pelo carnaval e o mundo do samba não compartilham da mesma opinião. O medo é que haja o fim das alas de compositores. Confira abaixo as opiniões dos internautas do Espaço Aberto do Galeria do Samba:

NÍKOLLAS CALEGARIO BOLZAN – 13/01/15 10:46
Bem, eu achei uma péssima idéia. Sempre achei um desprestígio total em relação à ala de compositores da escola as reedições de samba enredo, quanto mais essa junção de duas músicas consagradas pela MPB, e que não são nem samba de avenida, fundidas e preparadas para a Sapucai.
Já disse anteriormente neste espaço que pode até funcionar na avenida, com o público cantando junto, pois, afinal de contas são canções conhecidas, e eu até vou gostar de ver, pois o mesmo anda muito frio atualmente. Porém se formos levar para o lado ético é desprezível e não sei se o mestre Luiz Carlos da Vila, caso estivesse vivo, ficaria feliz com o resultado.

DANIEL SIQUEIRA – 13/01/15 10:56
Ficou bonito? Ficou! Mas é uma grande sacanagem com a ala de compositores da escola. Foge à regra dos sambas enredo…não sei se vai dar certo na avenida.

ITALO N PREVATO – 13/01/15 10:59
Eu não acho certo se valer de 2 obrar da MPB pra criar um samba enredo por mais bonito que seja, é uma covardia com a ala de compositores da escola pois se a moda pega daqui a alguns anos não teremos mais eliminatórias na escolas de samba para sua escolha.

LEONARDO CANTALICE – 13/01/15 11:27
Eu achei que foi uma ideia muito arriscada, mas que até agora deu certo. O samba da Viradouro é um dos mais bonitos dessa safra de 2015, junto com a Portela e a Imperatriz. A minha preocupação é como os jurados irão avaliar esse samba, pois, certamente, prejudicou a ala de compositores da escola. Já imaginou se a moda pega? Sem eliminatórias será o fim da ala de compositores nas escolas de samba.

JOÃO HENRIQUE – 13/01/15 13:56
O samba é bonito pois as obras são bonitas, mas é esquisito demais.

RODRIGO FERRO – 13/01/15 14:41
Antes mesmo que fosse divulgado na mídia como seria o samba enredo da Viradouro, eu como torcedor da Escola a princípio fiquei preocupado pois que são dois sambas maravilhosos isso ninguém pode negar porém a preocupação foi quanto a adaptação e como o samba casaria com a bateria da Escola.

Logo após a reunião da ala de compositores e direção, conversei com alguns compositores e todos foram criteriosos em dizer que estavam muito tranquilos e felizes com a decisão.

Estamos a um mês do carnaval e o que podemos concluir é que o samba enredo da Viradouro foi uma grande ideia, bem adaptado, gostoso de se ouvir e cantar, ótimo para desfilar e que funcionou no ensaio técnico (tanto na pista quanto na arquibancada).

Abrir os desfiles do Grupo Especial com este samba será uma enorme alegria ao verdadeiro sambista bem como aos componentes da Viradouro.

Quanto aos próximos carnavais acredito que não será por causa deste samba que a ala dos compositores da escola acabará muito menos tornará uma moda entre as escolas de samba como já ouvi alguns torcedores de outras agremiações comentando.

Em resumo: ideia audaciosa, inteligente e uma grande homenagem ao compositor Luiz Carlos da Vila.

ALÊ OSTELINO – 13/01/15 14:54
Luiz Carlos da Vila é autor do clássico Kizomba e compôs os dois sambas que originaram a música da Viradouro para 2015. Desta forma, a ideia de Gusttavo Clarão é praticamente a reedição fundida de duas músicas que já existem, sem necessariamente estarem num desfile.

Claro que o samba é bom, até por que vem de obras geniais. Todavia, falta originalidade e contraria todo o processo de produção musical das escolas de samba.

Embora surja como uma nova proposta e mantenha garantida uma boa composição, sofre a resistência de boa parte da turma do samba.

Não considero uma tendência esse processo.

A principal questão foi partir do samba para o enredo e não o contrário.

Daí inviabilizou-se o processo de composição, que na verdade estava pronto, foi somente manter a maior parte de um e extrair o refrão de outro.

Será funcional, bonito e bem retratado, todavia não vai além do que uma composição inédita faz com maior maestria – vide samba da Portela e da Imperatriz.

A intenção é boa, porém bem arriscada, muito diria. Será que vale a pena?

MARCIO SILVA – 13/01/15 15:57
Se esse samba da Viradouro serviu para alguma coisa foi mostrar que a qualidade dos sambas de enredo de hoje em dia está muito ruim, bem abaixo da média dos anos 90, 80 e, principalmente, os 70. Qual é o samba nota dez de 2015? Nenhum. À exceção dessa colcha de dois retalhos da escola de Niterói.

THIAGO TIGANA – 13/01/15 16:43
O resultado é um sambaço com um S maiúsculo, porém com algumas ressalvas, sendo a principal: não é um samba enredo. É uma adaptação, muito bem feita por sinal, mas um pouco equivocada e que tira um pouco do brilho romântico do samba enredo por pior que alguns sejam.

Por outro lado a Viradouro (e ai entram também as escolas que reeditam sambas) coloca luz a outro questionamento: o formato dos concursos de samba enredo é o mais adequado? Gasta-se milhares de reais para levar a avenida na maioria dos casos um samba de m*rda em troca de uns caraminguás de direitos autorais. Leva-se a quadra torcidas, bandeiras, balões, cria-se um circo pra se defender um samba que não se conecta com a escola, que não tem significado algum para o público ou para os componentes. E este processo está levando os discos de samba enredo a caírem num ostracismo total nas últimas décadas.

Adaptação de samba e reedição não é a resposta adequada para este processo horrível de escolha de samba pelo estamos passando mas levantam esta bola. Tanto levantam que nos últimos anos Portela e Imperatriz, principalmente, já estão procurando recolocar suas disputas nos eixos e buscando o samba que mais representa a escola e o público sem levar em conta só as mãozinhas pra cima e as palminhas.

A decisão da Viradouro é mais adequada? De longe não é. Mas a contribuição desta postura vai muito além do samba por si só.

MARCOS MAIA – 13/01/15 17:17
Por partes: primeiro sobre essa novidade do Gusttavo: dá muita discussão, compreendo muito os pontos de vista contrários, mas acho uma ideia válida. Naqueles tempos, anos 80 especialmente, foram feitos muitos sambas ” para Carnaval” que não eram de escolas de samba, mas que não deixam de ser sambas-enredo, posto que continham um tema e suas estruturas são basicamente idênticas a de um samba de avenida.

“Ah, mas e os compositores da escola?” Bem, aí há 2 ponderações: se as alas de compositores fossem como antigamente, quando só gente de dentro da escola podia participar, quando os “pombos” de fora não tinham vez, enfim, quando era uma coisa bem da comunidade mesmo, aí realmente isso que a Vira fez eu seria totalmente contra. Mas hoje?? não faz tanto sentido assim esse purismo…E a outra coisa: quando surgiram as reedições, também achou-se que as alas de compositores iriam não ter mais vez, mas vimos que nada disso aconteceu.

Falando agora do samba em si, como eu postei na minha análise dos sambas, me preocupa o “ooooooo” do refrão, me preocupa saber como será este samba em quase 80 min de desfile. Pode ser paradoxal com o que falei acima da estrutura ser mesmo de samba-enredo, mas isso ainda NÃO foi testado na avenida, então só iremos saber no dia. A qualidade da obra é óbvia, embora eu particularmente preferia que tivesse muito mais de “Um dia de graça”…não á toa, é a parte que os componentes da escola mais gostam de cantar nos ensaios.

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